Tenho a panca de ler para os outros em voz alta. Não que goste do exercício em si, acho maçador e dá-me cabo da garganta. Mas sempre me custou muito não poder partilhar com outras pessoas aquilo que me dava um enorme prazer a ler. E não podendo obrigar ninguém a ler o que eu lia, facilitava-lhes a vida fazendo com que as palavras lhes entrassem pelos ouvidos sem esforço.
Ainda miúda, sentava-me na cozinha e lia enquanto a minha mãe fazia o jantar (coitada!) de fio a pavio os meus livros preferidos (Alice Vieira, de certeza). Lia para ela, não para me ouvir, para poder partilhar. Mais tarde, teria lido com todo o prazer Os Maias a quem me tivesse pedido.
Quantas vezes vi filmes ou episódios de séries repetidos só para poder partilhar com outra pessoa a sensação que eu já tinha experimentado? Há esta dualidade na minha personalidade, independência/necessidade de partilha.
Adoro passear sozinha, era capaz de fazer grandes viagens sozinha, mas se descubro um sítio (café, restaurante, jardim, loja, paisagem, árvore) bonito não descanso enquanto não o partilho com quem gosto.